terça-feira, 11 de novembro de 2008

"Não diga: “Por que os dias do passado foram melhores que os de hoje?” Pois não é sábio fazer esse tipo de pergunta." (Ec 7.10)


Mais do que novas políticas públicas, novas metodologias pedagógicas, punições mais severas e novas leis que, verdadeiramente, tenham cara de leis, precisamos de algo mais forte, algo maior do que nós, algo sobrenatural.

Agir com moralidade, respeito ao próximo, sorrisos e gentilezas não funciona mais. Nossa sociedade se perdeu, em algum ponto da história, e não estamos conseguindo resgatar, ao menos, um pouco da ética e da dignidade humanas, pelas quais deveríamos pautar nossas vidas, pelo bem comum.

Houve um tempo em que eu temia o desenvolvimento.
Novas tecnologias, máquinas super-poderosas, andróides, robôs. Toda essa parafernália sem a qual não vivemos hoje.
Eis que a era da informação chegou. Mesmo assim, muitas pessoas, nunca tiveram uma qualidade de vida tão inferior.
O que há para temer agora?

Mortes e mais mortes, violência por violência, maus-tratos por maus-tratos. Degradação, marginalização, falta de educação, desrespeito. Porfias, mentiras. Nenhuma, de todas essas desgraças é coisa recente, invenção nossa, pelo contrário, nós estamos apenas nos superando em termos de perversidade.

O Rei Salomão, homem considerado um dos homens mais sábios que já existiu escreve no livro bíblico de Eclesiastes:

" O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente;
não há nada novo debaixo do sol.
Haverá algo de que se possa dizer: "Veja! Isto é novo!”?
Não! Já existiu há muito tempo, bem antes da nossa época.
Ninguém se lembra dos que viveram na antigüidade,
e aqueles que ainda virão tampouco serão lembrados
pelos que vierem depois deles." (Ec 1: 9-11)

Conservando a sabedoria que recebeu de Deus, ao ser ungido Rei, Salomão lançou-se em uma empreitada: Descobrir o que, realmente, valia a pena nos poucos dias da vida humana:

"Não me neguei nada que os meus olhos desejaram;
não me recusei a dar prazer algum ao meu coração."(Ec 2.10a)

E, assim, ele fez:

Lançou-se em grandes projetos;

"... construí casas e plantei vinhas para mim. Fiz jardins e pomares e neles plantei todo tipo de árvore frutífera. Construí também reservatórios para irrigar os meus bosques verdejantes. Comprei escravos e escravas e tive escravos que nasceram em minha casa. Além disso, tive também mais bois e ovelhas do que todos os que viveram antes de mim em Jerusalém.
Ajuntei para mim prata e ouro, tesouros de reis e de províncias. Servi-me de cantores e cantoras, e também de um harém, as delícias dos homens.Tornei-me mais famoso e poderoso do que todos os que viveram em Jerusalém antes de mim, conservando comigo a minha sabedoria."
(Ec 2. 4-9)

Refletiu acerca da vida;

"Por isso desprezei a vida, pois o trabalho que se faz debaixo do sol pareceu-me muito pesado. Tudo era inútil, era correr atrás do vento.
Desprezei todas as coisas pelas quais eu tanto me esforçara debaixo do sol, pois terei que deixá-las para aquele que me suceder. E quem pode dizer se ele será sábio ou tolo? Todavia, terá domínio sobre tudo o que realizei com o meu trabalho e com a minha sabedoria debaixo do sol. Isso também não faz sentido.
Cheguei ao ponto de me desesperar por todo o trabalho no qual tanto me esforcei debaixo do sol. Pois um homem pode realizar o seu trabalho com sabedoria, conhecimento e habilidade, mas terá que deixar tudo o que possui como herança para alguém que não se esforçou por aquilo. Isso também é um absurdo e uma grande injustiça. Que proveito tem um homem de todo o esforço e de toda a ansiedade com que trabalha debaixo do sol? Durante toda a sua vida, seu trabalho é pura dor e tristeza; mesmo à noite a sua mente não descansa. Isso também é absurdo."
(Ec 2. 17-23)

Deparou-se com injustiças;

"De novo olhei e vi toda a opressão que ocorre debaixo do sol:
Vi as lágrimas dos oprimidos, mas não há quem os console;
o poder está do lado dos seus opressores,e não há quem os console.
Por isso considerei os mortos mais felizes do que os vivos,
pois estes ainda têm que viver!
No entanto, melhor do que ambos é aquele que ainda não nasceu,
que não viu o mal que se faz debaixo do sol.
Descobri que todo trabalho e toda realização surgem da competição que existe entre as pessoas.
Mas isso também éabsurdo, é correr atrás do vento. (Ec 4. 1-4)

E com a impunidade;

"Quando os crimes não são castigados logo, o coração do homem se enche de planos para fazer o mal. O ímpio pode cometer uma centena de crimes e apesar disso, ter vida longa, mas sei muito bem que as coisas serão melhores para os que temem a Deus, para os que mostram respeito diante dele. Para os ímpios, no entanto, nada irá bem, porque não temem a Deus, e os seus dias, como sombras, serão poucos.
Há mais uma coisa sem sentido na terra: justos que recebem o que os ímpios merecem, e ímpios que recebem o que os justos merecem. Isto também, penso eu, não faz sentido. Por isso recomendo que se desfrute a vida, porque debaixo do sol não há nada melhor para o homem do que comer, beber e alegrar-se. Sejam esses os seus companheiros no seu duro trabalho durante todos os dias da vida que Deus lhe der debaixo do sol!
(Ec 8. 11-15)

Confrontou a insensatez;

"Havia um homem totalmente solitário; não tinha filho nem irmão.
Trabalhava sem parar!
Contudo, os seus olhos não se satisfaziam com a sua riqueza.
Ele sequer perguntava:
“Para quem estou trabalhando tanto, e por que razão deixo de me divertir?”
Isso também é absurdo;
é um trabalho por demais ingrato!
É melhor ter companhia do que estar sozinho,
porque maior é a recompensa do trabalho de duas pessoas.
Se um cair, o outro pode ajudá-lo a levantar-se.
Mas pobre do homem que cai e não tem quem o ajude a levantar-se!" (Ec 4. 7-10)

Fez grandes descobertas;

"Quem ama o dinheiro jamais terá o suficiente;
quem ama as riquezas jamais ficará satisfeito com os seus rendimentos.
Isso também não faz sentido.
Quando aumentam os bens, também aumentam os que os consomem.
E que benefício trazem os bens a quem os possui, senão dar um pouco de alegria aos seus olhos?
O sono do trabalhador é ameno, quer coma pouco quer coma muito,
mas a fartura de um homem rico não lhe dá tranqüilidade para dormir.
Há um mal terrível que vi debaixo do sol: Riquezas acumuladas
para infelicidade do seu possuidor.
Se as riquezas dele se perdem num mau negócio,
nada ficará para o filho que lhe nascer.
O homem sai nu do ventre de sua mãe, e como vem, assim vai.
De todo o trabalho em que se esforçou nada levará consigo." (Ec 5.10-15)

Ler o livro de Eclesiastes me leva a inúmeras reflexões. Nossos dias não são melhores ou piores do que os dias do rei. Os dias dos nossos filhos também não o serão. Os homens sempre competiram por bens e poder, oprimiram e ainda oprimem. "Todo o seu esforço é feito para a sua boca; contudo, o seu apetite jamais se satisfaz" (Ec 6.7)

Não há nada novo debaisxo do sol ...não há mesmo.
Isso não me deixa menos esperançosa mas me faz perceber que 'debaixo do sol' não há mesmo o que temer.

O que temer então?

"Descobri que não há nada melhor para o homem do que ser feliz e praticar o bem enquanto vive.
Descobri também que poder comer, beber e ser recompensado pelo seu trabalho é um presente de Deus.
Sei que tudo o que Deus faz permanecerá para sempre; a isso nada se pode acrescentar, e disso nada se pode tirar.
Deus assim faz para que os homens o temam." (Ec 3. 12-14)