terça-feira, 15 de janeiro de 2008

InDEPENDENTE

Quando eu era criança, lá em Barbacena, e sonhava com o futuro, nem de longe eu imaginei me tornar uma dona de casa. Amante da natureza, eu poderia ter estudado biologia. Apaixonada por animais, deveria ter me formado em medicina veterinária.

Quando via TV, os comerciais da Barbie me fascinavam, principalmente, quando associavam a boneca a alguma profissão. Linda, elegante, bem-sucedida e independente, a Barbie Veterinária era tudo o que eu desejava me tornar, nos próximos anos de minha vida.

Em pensamento tratei de cachorros e cavalos. Nossa! Eu era uma profissional exemplar, e bonita, diga-se de passagem! Sempre bem vestida com um macacão desbotado, os cabelos mal presos, uma mochila amarela (e encardida) não muito cheia de aparatos diversos e um fiel escudeiro ao meu lado - um belo dog alemão malhado, de postura impecável, inteligente que só ele e premiado, incontáveis vezes, nos campeonatos dos quais participamos.
Nem imaginava onde estaria morando àquela altura da minha vida. Minha sensação de liberdade ao lado daquele cachorro era tão grande, que sempre estávamos indo e vindo, socorrendo um filhotinho aqui, desenterrando uma vaca ali, correndo num campo verde e infindável, vendo o pôr-do-sol. Éramos ocupados e felizes.

Não consigo me lembrar em que época, ao certo, eu desisti desse sonho. Não de todas as partes dele por que, um dia, eu ainda vou ter um Dog Alemão malhado. Sabemos que o passar dos anos, as mudanças de perspectivas e os ditames da sociedade influenciam nossas escolhas mas, o fato de eu ter privado o reino animal de minhas afáveis mãos deve-se, exclusivamente, a minha letargia, à minha falta de coragem de encarar a vida e o mundo, da minha completa dependência.

Como um animal sentimental que se apega facilmente, fui me apegando aos acontecimentos e não às possibilidades. Desatenta as oportunidades, fui trilhando o caminho que se materializava diante dos meus pés e, posso afirmar, trilhei muito bem. Tive idéias, mudei os planos, tive planos, mudei de idéia. Renato Russo denominou isso de Sereníssima, eu de perdidíssima.

Longe de ser a Barbie dos comerciais, a bela veterinária de macacão, a profissional destemida do mundo atual, a mulher independente dos meus sonhos, sou apenas uma Dona de casa. Não posso me queixar da vida que tenho, aliás, eu até posso, mas não devo. Me sinto feliz assim e sei que as possibilidades não deixaram de existir, talvez eu é que precise mudar (Talvez?). Enquanto isso, melhor é ir seguindo assim mesmo "com um sorriso bobo, parecido com soluço , enquanto o caos segue em frente com toda a calma do mundo."





O Dog dos sonhos
(foto de http://www.ilhadogerere.com.br)

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